O dramaturga, roteirista e diretora Clàudia Cedó (Banyoles, 1983) apresenta esta sexta-feira o curta-metragem ‘De sucre’ no Seminci de Valladolid. É uma adaptação da peça ‘Mare de sucre’ que conta a história de Maria, uma mulher com diversidade funcional que quer ser mãe.
Em entrevista, Cedó detalha que a produção conta com o mesmo protagonista, assim como os atores e atrizes de Escenaris Especiais. Além disso, explica que o curta é um “primeiro passo”, pois a intenção é poder transformá-lo em longa-metragem. “Acho que o cinema pode dar novidades à história, fazê-la crescer e abrir as portas para que ela chegue a mais lugares”, afirma.
A trama é centrada em Maria – interpretada por Andrea Álvarez –, uma mulher de trinta anos com diversidade funcional que tem um desejo: ser mãe. A partir daí, a história aborda a incompreensão de sua família e também da fundação onde vive e trabalha, fato que o levará a liderar uma rebelião para recuperar a decisão sobre seu próprio corpo. Cedó destaca que a história reflete sobre o “olhar da sociedade” sobre os corpos dessas mulheres, muitas vezes tomando “decisões” por elas e gerando um espaço de “proteção” que acaba se tornando “uma castração” de sua liberdade.
Se em ‘Sugar Mother’ toda a história foi apresentada, o curta a reduz a um episódio específico: quando Maria vai acampar com a fundação e tenta engravidar nessas férias.
“O curta tem a carga crítica e social que todos nós que fazemos parte da equipe de Etapas Especiais carregamos dentro de nós, mas o faz com leveza e humor”, insiste Cedó. Na verdade, acredita que o cinema oferece a possibilidade de ter uma linguagem “mais íntima e sensorial” que permite colocar-se no lugar do protagonista.
Ela ressalta ainda que ela e a equipe tiveram que se adaptar a um novo léxico, um novo ritmo e também a abordagem de um roteiro que tinha que ser totalmente diferente. “Tem sido um aprendizado porque reencontramos a obra e fizemos uma versão que mantém a essência da primeira, mas parte de outro ponto de vista”, afirma. Claro, a diretora deixa claro que a relevância do assunto ainda está muito presente: o desejo da maternidade. “Qualquer mulher consegue entender Maria, tenha ela diversidade funcional ou não”, acrescenta.
Um momento doce para cenários especiais
Cedó considera que o facto de se apresentar no Valladolid Seminci é uma grande oportunidade, pois é uma forma de fazer com que a história chegue a “um público muito diferente”. Ele também acredita que o curta é uma espécie de treinamento para a versão cinematográfica mais longa, que pretende fazer com a ajuda da Lastor Media. “Tem sido uma alegria e estamos muito entusiasmados”, admite. Aliás, o realizador acredita que neste momento atravessam um momento “muito poderoso” para atores e atrizes com diversidade funcional, comparativamente, por exemplo, quando começaram a trabalhar, há vinte anos.
“Ainda há muito trabalho a fazer, mas de certa forma mudou, os palcos foram conquistados e estas propostas já não estão programadas apenas em festivais específicos”, diz, “de certa forma defendemos que sejam são artistas que podem desempenhar qualquer papel”. Por fim, Cedó espera que daqui a alguns anos possa olhar para trás e perceber como tudo está diferente agora. “As coisas estão mudando e esperamos que mais pessoas mudem”, conclui ele.