Lagartas e peixes-papagaio do Atlântico são detectados na costa catalã, indicadores de mudanças climáticas

Este 2024, duas espécies tipicamente tropicaiso Peixe-papagaio do Atlântico (também conhecido como “velho Canário”) e o verme de fogofoi encontro pela primeira vez na Catalunha, mostrando os efeitos do aquecimento do mar.

Essas descobertas, documentado no âmbito do BioMARató e graças à ciência cidadã, eles foram confirmados através do Plataforma MINKAgerido pelo Instituto de Ciências do Mar (ICM-CSIC).

O “velho Canário”, espécie de peixe-papagaio originário das Ilhas Canárias e também comum nas Ilhas Baleares, foi descoberto de surpresa em Blanes por Virgínia e José Manuel, um casal de mergulhadores livres. A sua presença na Catalunha é excepcional, pois é um peixe que vive em águas quentes e que, até agora, não tinha sido detectado nesta zona. “Não podíamos acreditar”, diz Virginia, que carregou a imagem no MINKA para confirmar a observação.

Outro caso relevante foi o do verme-de-fogo (Hermodice carunculata), poliqueta marinho com pelos urticantes de até 30 cm de comprimento, detectado por um mergulhador no Parque Subaquático SES de Tarragona. Esta espécie invasora, conhecida pelo seu corpo coberto por escamas que causam irritação a quem a toca, habita habitualmente zonas do Atlântico e águas quentes do Mediterrâneo. “Suspeitava que mais cedo ou mais tarde o encontraríamos aqui”, explica o mergulhador “biosub”, que colabora com o BioMARató.

Indicadores de aquecimento de água

A presença destas espécies de origem tropical na Catalunha é considerada um sinal claro do aquecimento das águas do Mediterrâneo, situação que preocupa a comunidade científica. “Estas espécies mostram que o Mediterrâneo está num processo de mudança”, destaca Jaume Piera, investigador do ICM-CSIC e coordenador do BioMARató, que salienta que este fenómeno, observado continuamente, é testemunha do impacto das alterações climáticas no ecossistemas marinhos.

Além do peixe-papagaio e do verme-do-atlântico, outras espécies típicas de águas quentes foram documentadas durante o evento BioMARató, que reuniu mais de 1.731 espécies e 91.211 observações graças à participação de 480 pessoas. Esta quarta edição, que terminou com uma celebração no Centro de Interpretação das Pescas (CIP) de Ametlla de Mar, destaca o importante papel da ciência cidadã na monitorização das espécies e na evolução da biodiversidade marina ao longo da costa catalã.

Uma ferramenta para a ciência e a conservação

Com mais de 250.000 observações verificadas no MINKA, o BioMARató tornou-se uma das referências da biodiversidade marinha no Mediterrâneo e contribui diretamente para o conhecimento da distribuição das espécies. O aquecimento das águas não só atrai espécies tropicais, mas, em alguns casos, afecta o ciclo biológico das espécies locais, como o branqueamento dos corais mediterrânicos ou a floração prematura da Posidonia oceanica, o que evidencia as profundas mudanças que já estão a afectar a costa catalã.

Através do BioMARató, a Catalunha permanece alerta para as transformações que os ecossistemas marinhos experimentam, sendo a participação dos cidadãos uma peça chave para documentar estas alterações climáticas.

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